(Português) A crueldade da “farra do boi”

ORIGINAL LANGUAGES, 31 Dec 2018

David Arioch | Vegazeta – TRANSCEND Media Service

Proibida no Brasil há mais de 20 anos, a “farra do boi” ainda continua a ser realizada em Santa Catarina.

Na “farra do boi”, o animal é provocado, perseguido e violentado até não ter mais forças para se levantar. (Fotos: Reprodução)

26 dez 2018 – Proibida no Brasil há 20 anos, a “farra do boi” ainda continua a ser realizada ilegalmente em Santa Catarina, onde a prática quase sempre termina com a morte do animal, seja em decorrência da violência da “farra” ou da execução durante a captura do boi por parte da Polícia Militar.

O Projeto Esperança Animal (PEA) estima que todos os anos centenas de bois são torturados e mortos em diversas comunidades de Santa Catarina apenas por “diversão”. Embora a “farra do boi” se intensifique mais na época da Quaresma, também é realizada antes e depois do Natal; ou mesmo fora de época, quando o boi se torna vítima de algum tipo de celebração, que pode ser até mesmo um aniversário ou um casamento.

Na semana passada, por exemplo, durante a “farra do boi”, um bovino foi abatido no Rio Vermelho, em Florianópolis. Depois de ser provocado e violentado tantas vezes, o animal ficou agressivo. Quando a Polícia Militar o localizou, ele acabou morto, o que é muito comum, principalmente quando o animal não traz nenhum tipo de identificação. Inclusive os “farristas” fazem questão de tirar o brinco do boi para que seja difícil localizar o ex-proprietário do animal.

Na “farra do boi” normalmente o animal é comprado por um grupo de “sócios”, que são os realizadores, e solto e perseguido por pessoas das mais diferentes faixas etárias. Também há casos de doações de animais por parte de políticos. Quem não conhece a “farra do boi” pode achar que os “farristas” apenas correm atrás do animal e fogem dele. Mas a realidade é bem diferente. É comum os participantes usarem cordas, chicotes, pedras, pedaços de pau e até lanças de bambu e facas para golpearem o animal. Ou seja, a crueldade é bem evidente.

Os bois naturalmente tentam encontrar abrigo durante a perseguição, e nessas situações danos materiais são inevitáveis – e claro que como consequência da provocação e da violência humana. Na tentativa de escapar dos “farristas”, há animais que correm em direção ao mar e acabam morrendo afogados.

Os participantes costumam dizer que a “brincadeira” tem um viés religioso, já que a “farra do boi” é encarada como a “perseguição de Judas, o traidor de Cristo” – uma “herança cultural” herdada de seus ancestrais católicos, alegam. No entanto, além da Igreja Católica não aprovar a prática, organizações que atuam em defesa dos animais sempre frisam que é apenas violência pela violência, já que não há a mesma preocupação em relação a outros elementos inofensivos da cultura açoriana como “O Boi de Mamão” e o “Pão-por-Deus”.

De acordo com o Projeto Esperança Animal, a “farra do boi” é tão cruel que já houveram casos em que os “farristas” jogaram pimenta nos olhos dos animais e os arrancaram. Também os banharam em gasolina e atearam fogo. Outro exemplo surpreendente é a quebra dos cornos e patas, além do corte do rabo do animal durante a perseguição. “Os bois podem ser esfaqueados e espancados, mas há um ‘cuidado’ para que o animal permaneça vivo até o final da ‘brincadeira’”, enfatiza o PEA.

Segundo publicação da BBC, só no ano passado a Polícia Militar de Santa Catarina registrou mais de 147 ocorrências de “farra do boi” – que tem a pequena Governador Celso Ramos como o “maior reduto de farra do boi” do Brasil. Há episódios em que um animal foi perseguido por dois ou até três dias até ceder sem forças e morrer. Ao final, os participantes retalharam o animal e dividiram a carne.

A “farra do boi” foi proibida no Brasil pelo Supremo Tribunal Federal (STF), quando os ministros a qualificaram como “intrinsecamente cruel”. Portanto, quem for detido participando da “farra do boi” pode ser condenado a um ano de prisão, conforme a Lei de Crimes Ambientais (9.605/1998).

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David Arioch é jornalista profissional, historiador e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário.

 

 

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