(Português) Krugman: “O que se está a passar em Portugal é inaceitável”

NOBEL LAUREATES, EUROPE, ECONOMICS, CAPITALISM, ORIGINAL LANGUAGES, 3 Jun 2013

Pedro Duarte – Economico

O Prémio Nobel da Economia Paul Krugman considerou hoje [27 maio 2013] que “o que se está a passar em Portugal (e o que os portugueses estão a experienciar) é inaceitável”, sendo vital “fazer alguma coisa”.

No blog que mantém no site do jornal ‘New York Times’, Paul Krugman dedica hoje dois extensos artigos a Portugal, onde recorda as suas experiências quando visitou Portugal em 1976, a convite do então governador do Banco de Portugal, José Silva Lopes.

“No Verão de 1976”, recorda Krugman, vieram a Portugal cinco doutorandos do Massachussetts Institute of Technology (MIT) para dar conselhos ao executivo português. O Nobel da Economia recorda que, para além de si próprio, integravam ainda o grupo o futuro ministro das Finanças Miguel Beleza, bem como três outros economistas norte-americanos que vieram a ter carreiras de renome.

Na altura, diz o economista, “Portugal era um local interessante de um modo bizarro – ainda algo caótico depois do golpe de Estado [o 25 de Abril] e a retirada do seu império africano”, estando os hotéis “cheios de ‘retornados'”. Para Krugman, a Lisboa de então “parecia um fóssil, como muita da sua aparência e infra-estrutura pouco mudada desde o início do século. A Democracia parecia frágil, embora a verdade era que os ‘posters’ maoístas em todo o lado enganavam; a esquerda democrática [o Partido Socialista] tinha ganho [as eleições] de modo decisivo quando chegámos (embora a televisão ainda mostrasse programas sobre tractores da Alemanha de Leste, numa altura em que os cinemas tentavam pôr-se em dia de uma década de filmes pornográficos ocidentais)”. “Em suma”, diz Krugman, “o país era fascinante, adorável e ainda muito pobre”.

O economista recorda então a sua segunda vinda à capital portuguesa em 2012, onde se encontrou com o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho e o ministro das Finanças Vítor Gaspar.

“Lisboa foi, para ser franco, um pouco decepcionante: tinha-se tornado numa cidade europeia normal, se bem que encantadora. Mas esta normalidade era, como todos admitimos, uma coisa maravilhosa: Portugal tinha emergido de uma longa e atribulada história para se tornar parte da decência básica do modelo social europeu”, diz o prémio Nobel.

“Mas agora, tudo isso está sob cerco”, avisa. Numa análise separada mas escrita quase em simultâneo, Krugman analisa a situação da economia portuguesa, e verifica que o país está a ficar na mesma situação que os EUA experimentaram durante a Grande Depressão de 1929-1934. O Nobel da Economia avisa que quem quer que esteja a analisar a evolução económica “deverá focar-se, acima de tudo, sobre como e porquê é que estamos a permitir que este pesadelo aconteça de novo, três gerações depois da Grande Depressão”.

“Não me digam que Portugal teve más políticas no passado e que tem agora profundos problemas estruturais. Claro que tem; como aliás toda a gente, e enquanto que os de Portugal poderão possivelmente ser piores do que os de alguns outros países, como é que pode possivelmente fazer sentido ‘lidar’ com estes problemas através da condenação ao desemprego de vastos números de pessoas que querem trabalhar?”, questiona o economista.

Krugman avança, como solução para Portugal, uma “maior inflação” nos países do centro da Europa, bem como uma forte “ajuda da política orçamental – não uma situação onde a austeridade nos países periféricos é reforçada por austeridade nos países do centro”.

“O que tem acontecido até agora, contudo, são três anos nos quais a política europeia se tem focado quase inteiramente nos alegados perigos da dívida pública. Eu não penso que é uma perda de tempo discutir como é que esse foco erróneo aconteceu, incluindo o papel desafortunado que foi desempenhado por alguns economistas que têm feito um óptimo trabalho no passado, e que presumivelmente também o farão no futuro. Mas agora o importante é mudar as políticas que estão a causar este pesadelo”, argumenta o economista de Princeton.

Krugman sublinha ainda que, por vezes, encontra “europeus que pensam que as minhas duras críticas da ‘troika’ e das suas políticas significa que sou anti-europeu. Pelo contrário: o projecto Europeu, a construção da paz, democracia e prosperidade através da união, é uma das melhores coisas que alguma vez aconteceu à humanidade. E é por isso que as políticas erróneas que estão a desfazer a Europa são uma tragédia tão grande”.

Go to Original – economico.sapo.pt

Share this article:


DISCLAIMER: The statements, views and opinions expressed in pieces republished here are solely those of the authors and do not necessarily represent those of TMS. In accordance with title 17 U.S.C. section 107, this material is distributed without profit to those who have expressed a prior interest in receiving the included information for research and educational purposes. TMS has no affiliation whatsoever with the originator of this article nor is TMS endorsed or sponsored by the originator. “GO TO ORIGINAL” links are provided as a convenience to our readers and allow for verification of authenticity. However, as originating pages are often updated by their originating host sites, the versions posted may not match the versions our readers view when clicking the “GO TO ORIGINAL” links. This site contains copyrighted material the use of which has not always been specifically authorized by the copyright owner. We are making such material available in our efforts to advance understanding of environmental, political, human rights, economic, democracy, scientific, and social justice issues, etc. We believe this constitutes a ‘fair use’ of any such copyrighted material as provided for in section 107 of the US Copyright Law. In accordance with Title 17 U.S.C. Section 107, the material on this site is distributed without profit to those who have expressed a prior interest in receiving the included information for research and educational purposes. For more information go to: http://www.law.cornell.edu/uscode/17/107.shtml. If you wish to use copyrighted material from this site for purposes of your own that go beyond ‘fair use’, you must obtain permission from the copyright owner.

Comments are closed.