(Português) Universidade Brasileira Forma Sua Primeira Turma Composta Só por Índios

ORIGINAL LANGUAGES, 20 Apr 2015

Bruna Angélica Pelicioli Riboldi – Conexão Lusófona

Imagem: Henrique Almeida, Divulgação UFSC

Imagem: Henrique Almeida, Divulgação UFSC

14 Abr 2015 – A Universidade Federal de Santa Catarina formou a sua primeira turma composta só por índios. O grupo se gradua em Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica.

São 85 alunos das etnias guarani, kaingang e laklãnõ/xokleng, provenientes do Mato Grosso do Sul (MS), Espírito Santo (ES), Rio de Janeiro (RJ), Santa Catarina (SC) e Rio Grande do Sul (RS). O curso teve duração de quatro anos, entre aulas na universidade e atividades desenvolvidas nas aldeias. Os estudantes receberam formação para lecionar nas áreas de infância, linguagens, humanidades e conhecimento ambiental indígena.

O juramento na colação de grau falou de cultura, liberdade, autonomia, luta pela terra, autodeterminação, alegria e crianças sadias. O discurso dos oradores ressaltou a preocupação com o futuro, a importância das tradições culturais e da demarcação de território indígena:

– Não importa o povo ou etnia a que pertencemos, somos todos irmãos, filhos desta terra – lembraram.

Uma reportagem publicada no site da universidade ressalta algumas histórias de superação dos alunos.

Adelino Gonçalves (Imagem: Henrique Almeida, Divulgação UFSC)

Adelino Gonçalves (Imagem: Henrique Almeida, Divulgação UFSC)

Foi o cuidado com a família e seu povo que impulsionou o primeiro formando da noite, o guarani Adelino Gonçalves, a completar o curso, após quase haver desistido. Morador de Biguaçu (SC), conta que a rotina de trabalho e estudos ficou forçada demais, e ele quase largou a graduação pela metade.

– Mas eu sei que isso vai fazer uma diferença para nós. Tenho que espalhar esse conhecimento, temos que mostrar as coisas que aprendemos e valorizar o que ensinamos. A experiência de convivência foi muito importante; um dos motivos para os não índios não respeitarem nossa cultura como deveriam é porque não a conhecem –, observa.

Armandio Bento (Imagem: Henrique Almeida, Divulgação UFSC)

Armandio Bento (Imagem: Henrique Almeida, Divulgação UFSC)

A satisfação em poder aprimorar as escolas indígenas da sua cidade natal estava estampada no rosto do kaingang Armandio Bento, de 48 anos. Natural de Redentora, no Rio Grande do Sul, é professor há 21 anos.

– Nossas principais atividades lá são o artesanato e a agricultura, e queremos continuar com essas coisas, mas também levar mais saúde e valorizar cada vez mais o estudo –, prevê.

Woie Patté (Imagem: Henrique Almeida, Divulgação UFSC)

Woie Patté (Imagem: Henrique Almeida, Divulgação UFSC)

xokleng Woie Patté, de José Boiteux, era um dos mais animados, tanto na hora de subir ao palco para tomar o lugar na cerimônia quanto na hora de receber o diploma:

– É uma noite de muita alegria, estou emocionado mesmo –, diz. Ele trabalhava como agente de saúde e resolveu aproveitar a oportunidade de fazer uma graduação e iniciar uma carreira acadêmica. Agora, os planos incluem mestrado e doutorado.

Durante a cerimônia, dois colegas foram lembrados: Natalino e Eduardo, que são parte da turma, mas faleceram antes de terminar o curso. A paraninfa Maria Dorothea Post Darella prestou uma homenagem especial à formanda Maria Cecilia Barbosa, que se tornou bisavó enquanto fazia o curso.

– Foi possível experimentar uma troca, com conhecimentos tradicionais sendo trazidos para o seio da academia – declarou Flácio Chiarelli Vicente de Azevedo, presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), apoiadora do curso, em entrevista à TV Brasil.

>> Leia mais: Pesquisador é primeiro índio brasileiro a receber título de doutor em linguística pela Universidade de Brasília

_______________________________

Bruna Angélica Pelicioli Riboldi – Licenciada em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Brasil), pós-graduada pela Georgetown University (EUA) e mestre em Culturas Contemporâneas e Novas Tecnologias pela Universidade Nova de Lisboa, Bruna é editora-chefe do Portal da Conexão Lusófona e coordenadora das redes sociais. Grande curiosa da lusofonia, tem entre seus hobbies preferidos devorar música e literatura lusófona. Após dois anos em Portugal, Bruna reside hoje na França.

Go to Original – conexaolusofona.org

Share this article:


DISCLAIMER: The statements, views and opinions expressed in pieces republished here are solely those of the authors and do not necessarily represent those of TMS. In accordance with title 17 U.S.C. section 107, this material is distributed without profit to those who have expressed a prior interest in receiving the included information for research and educational purposes. TMS has no affiliation whatsoever with the originator of this article nor is TMS endorsed or sponsored by the originator. “GO TO ORIGINAL” links are provided as a convenience to our readers and allow for verification of authenticity. However, as originating pages are often updated by their originating host sites, the versions posted may not match the versions our readers view when clicking the “GO TO ORIGINAL” links. This site contains copyrighted material the use of which has not always been specifically authorized by the copyright owner. We are making such material available in our efforts to advance understanding of environmental, political, human rights, economic, democracy, scientific, and social justice issues, etc. We believe this constitutes a ‘fair use’ of any such copyrighted material as provided for in section 107 of the US Copyright Law. In accordance with Title 17 U.S.C. Section 107, the material on this site is distributed without profit to those who have expressed a prior interest in receiving the included information for research and educational purposes. For more information go to: http://www.law.cornell.edu/uscode/17/107.shtml. If you wish to use copyrighted material from this site for purposes of your own that go beyond ‘fair use’, you must obtain permission from the copyright owner.

Comments are closed.