(Português) Cuba: Uma Nação Altiva

ORIGINAL LANGUAGES, 8 Jun 2015

Laurindo Lalo Leal Filho – Carta Maior

La Habana en junio de 2011. Credit Desmond Boylan/Reuters

La Habana en junio de 2011. Credit Desmond Boylan/Reuters

A tendência é que em pouco tempo a ilha do Caribe, pouco maior que Pernambuco, receba tantos turistas quanto todo o Brasil.

Cuba vinha recebendo em média 2,5 milhões de turistas por ano.

No primeiro trimestre de 2015, já chegam a 1 milhão. Isso sem que ainda tenham sido restabelecidos voos regulares com os Estados Unidos.

Do Brasil, apenas uma agência de viagens coloca por ano em Cuba cerca de mil visitantes.

A tendência é que em pouco tempo a ilha do Caribe, pouco maior que Pernambuco, receba tantos turistas quanto todo o Brasil.

Essa indústria foi implementada nos anos 1990 como forma de enfrentar a crise decorrente do fim do campo socialista combinado com o bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos, em vigor desde 1962.

Se de um lado a política contribuiu para aliviar agruras econômicas, de outro trouxe para dentro do país hábitos e comportamentos diversos dos padrões igualitários de vida adotados pelos cubanos.

No entanto, em uma visão impressionista, circulando alguns dias por Havana é possível perceber que a contaminação turística não tirou dos cubanos a altivez cunhada numa longa história de lutas em busca da soberania nacional.

Turistas são assediados por ofertas de serviços e produtos como em qualquer outro destino semelhante existente no mundo.

Mas tanto esses cubanos como principalmente aqueles que atuam em hotéis, restaurantes e lojas tratam os clientes de igual para igual, sem arrogância, mas nunca com submissão.

Comportamento semelhante e decorrente da própria postura da nação, capaz de enfrentar da mesma forma os desafios impostos ao país há mais de meio século pela maior potência bélica do mundo, situada a poucos quilômetros.

A altivez não se resume ao relacionamento turístico. Revela-se cada vez mais na discussão dos problemas internos.

A universalização dos serviços públicos de educação e saúde, bem como a garantia de uma cesta básica de alimentação para todos, já não bastam. Passa-se a discutir a qualidade desses e de outros serviços, e as formas de colocá-los em prática.

Entre elas está a abertura mais recente de alguns setores da economia para prestadores de serviços “por conta própria”, como restaurantes e transportes de passageiros, dentro de limites estabelecidos em lei.

Se a construção do socialismo cubano não foi fácil, sua consolidação em um mundo claramente hostil requer extraordinária habilidade política.

Trabalho que inclui tanto as medidas internas mencionadas como a busca do reatamento de relações diplomáticas com os Estados Unidos, sem no entanto deixar de censurá-los por sua atitude belicosa diante da Venezuela.

Tudo isso, muitas vezes, passa despercebido pelo turista, especialmente o brasileiro de classe média que vai a Cuba e mede o país com sua régua capitalista.

Pode ser pedir muito, mas seria interessante que antes de viajar folheassem o livro do professor Florestan Fernandes Da Guerrilha ao Socialismo: A Revolução Cubana. Diz ele, em trecho ressaltado no prefácio pelo professor Antonio Candido:

“Pela primeira vez, na história da América Latina, uma revolução nacional deixaria de dissociar o elemento nacional do elemento democrático e, ao vencer, a ideia de nação arrasta com ela a construção de uma ordem social inteiramente nova e socialista”.

Entender essa nova ordem é fundamental, com seus avanços e recuos, erros e acertos.

A leitura e a reflexão de trechos como esse tornariam a viagem mais proveitosa, acrescentando às praias e aos mojitos uma experiência de crescimento intelectual e espiritual inigualável.

Sem falar da riqueza melódica a acompanhá-los por toda a parte.

À semelhança do Buena Vista Social Club, brotam conjuntos de músicos e cantores que, aos 70, 80 anos, seguem levantando as plateias com suas vozes e ritmos, ao lado de conjuntos jovens de jazz com fortes sabores latinos.

Vidas que pulsam entre a defesa das conquistas obtidas e a busca de condições de vida mais confortáveis.

Compreender esse desafio é tarefa fundamental para apoiar um processo histórico inédito no continente, onde a solidariedade busca se sobrepor ao individualismo.

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Artigo publicado originalmente na Revista do Brasil, edição de maio de 2015.

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