(Português) Atleta e vegana pelos animais: Como me tornei uma tripla recordista mundial no Guinness

ORIGINAL LANGUAGES, 27 Feb 2017

Fiona Oakes - ANDA Agência de Notícias de Direitos Animais

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20 fev 2017 – Meu nome é Fiona Oakes, sou vegana desde os seis anos e vegetariana desde os três. Sou vegana por instinto – uma expressão natural do meu amor pelos animais e o desejo de não querer machucar aqueles com que me importo. Meu veganismo é, e sempre foi, a força predominante e influente na minha vida. Vegana não é o que eu sou; é quem eu sou desde que consigo me lembrar.

Não foi fácil no começo – ninguém na minha família era vegano ou mesmo vegetariano e (com exceção da minha mãe), eles não me encorajavam a seguir um estilo de vida baseado em plantas. Isso foi há mais de 40 anos, e desde aquele tempo as coisas mudaram muito, com bem mais informações veganas amigáveis na imprensa popular que apoiam minha visão de vida baseada em plantas para todos.

Apesar de eu ser uma corredora de maratona de elite e tripla recordista mundial do Guinness, eu sou, primeiramente, uma advogada dos animais e cuidadora. Se eu não pensar que os animais serão beneficiados direta ou indiretamente pelas minhas ações, eu as reconsiderarei. Quase todo dia da minha vida é gasto cuidando de animais resgatados na Tower Hill Stables Animal Sanctuary, uma instalação que eu encontrei há mais de duas décadas, apenas fora de Londres no Reino Unido. Atualmente o santuário é casa para mais de 400 animais resgatados, domésticos ou de fazendas, e vêm para meu cuidado sob várias situações desesperadas. Todos eles são bem vindos, tratados igualmente com o direito e a dignidade, sendo cada vida preciosa.

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Meus dias são longos e cheios de trabalho e preocupação – levanto às 3h30 da manhã e só termino quando todos estão bem cuidados e confortáveis, por volta das 9h da noite. É um regime desgastante, que continua diariamente, independentemente de tempo, estação ou circunstâncias. Algumas pessoas veem essa vida que levo como um sacrifício. Eu a vejo como uma honra e privilégio de ser capaz de fornecer um paraíso para tantas vítimas vulneráveis de violência humana.

Começando o santuário

O santuário era uma enorme empresa, uma coisa que eu possivelmente não conseguiria ter imaginado naqueles mais de vinte anos, quando eu comecei isso. Eu sempre resgatei animais de um jeito muito simples, mas quando um dos meus cavalos sofreu um terrível acidente por causa da negligência do proprietário do estábulo, eu decidi criar uma casa para os animais que eu amava. Depois disso, preparações frenéticas e o processo lento de arrecadar fundos para comprar uma terra começaram. Era enorme; pareceu insuperável. Nós vendemos todas as coisas de qualquer valor que tínhamos, e de qualquer maneira fizemos isso.

Em 5 de Dezembro de 1996, meu parceiro Martin e eu nos mudamos para o santuário, junto à nossa família de animais. No dia seguinte, nosso cavalo doente Oscar voltou para “casa”, vivendo feliz por mais quatro anos, até o envelhecimento o levar de nós.

Depois desse tempo o santuário só cresceu e cresceu, vindo da necessidade desesperada de muitos animais que precisavam de ajuda. Atualmente temos cavalos, ovelhas, gado, porcos, cabras, perus, galinhas, patos, pavões, cachorros, gatos e coelhos – a maioria resgatados de exploração agrícola, indústria de carne e laticínios, alguns simplesmente “jogados fora” por causa da idade, doentes ou não queridos. Nós não discriminamos ou questionamos as razões dessa situação difícil, nós apenas tentamos achar a resposta e acabar com isso.

Depois de muitos anos eu percebi que correr com o santuário não era o bastante – nem pra mim e, certamente, nem para os animais. Sim, eu poderia distribuir carinho e conforto para alguns, mas e os outros milhões e milhões que estão sofrendo e estão além do meu alcance? Eu tenho que fazer mais. O problema pesou na minha mente por semanas, meses e anos até eu aparecer com um plano: eu tinha que ficar boa em algo difícil, realmente difícil, que provaria enfaticamente a viabilidade – ou, no meu ponto de vista, a superioridade – de uma dieta baseada em plantas.

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Me tornando corredora

Eu sempre fui boa em esportes, e em um momento eu tive a ideia de correr. Eu queria demonstrar para o mundo que uma dieta baseada em plantas era boa para performance. Como me tornaria uma boa corredora? Dedicação, disciplina, determinação, e ir aonde a resposta está. Eu sabia que não estava na melhor condição física para alcançar essa meta, as múltiplas cirurgias no joelho quando adolescente me deixaram parcialmente inabilitada e sem o fulcro fundamental da rótula direita. Eu tinha uma inabilitação, mas também tinha uma força: eu não estava fazendo isso por mim; eu estava fazendo pelos animais e para provar que uma vegana poderia alcançar os resultados que outra pessoa só sonharia. Quando o treino ficou difícil, eu lembrei porque estava fazendo isso: minha dor era voluntária; a deles não – esse pensamento era tudo o que eu precisava para me manter em frente, e isso é exatamente o que eu vim fazendo desde então.

Este pensamento me levou a vencer várias maratonas, um recorde pessoal de 2h e 38 minutos e ficar no top 20 de duas das Maiores Maratonas do Mundo (Berlim e Londres). Conseguindo alcançar tudo isso, eu comecei a olhar para meus resultados e pensar se eles estavam fazendo a diferença que eu queria para os animais.

Maratona des Sables: a corrida de 150 milhas através do deserto do Saara

Em 2011, alguém sugeriu que eu deveria tentar algo completamente diferente, algo mentalmente e fisicamente desafiador. Eles mencionaram a Maratona dos Sables, conhecida como “a mais difícil maratona do mundo”, uma corrida de 150 milhas através do Saara, a qual você carrega seus suprimentos nas costas por cinco ou seis dias. Além do funcionamento real da corrida, os perigos incluem as temperaturas do dia acima de 54ºC, e temperaturas congelantes durante a noite. 243 quilômetros de dunas de areia, bolhas, desidratação e o jeito primitivo de viver, absolutamente sem conforto – apenas instalações básicas de tenda ao final de cada estágio e pouquíssima água racionada.

Eu estava desesperada para provar que eu conseguia fazer isso, mesmo com os desafios adicionais da minha bagagem super pesada, originada do meu kit ético, limitada disponibilidade de comidas desidratadas e bebidas de recuperação que faziam minha bagagem mais pesada que o normalmente aceitável. Eu só queria provar que isso era possível: se eu poderia fazer isso como vegana, então quem poderia argumentar qualquer coisa, quer dietéticos ou não, por não seguir o exemplo?

Minha tarefa não foi uma das mais fáceis de ser feitas, já que quebrei dois dedos tentando ajudar uma égua velha, Charity, até seus pés, uma semana antes da corrida. Eu fui avisada para não correr, mas eu tinha que tentar. Foi uma das coisas mais difíceis que eu já fiz. Os dedos quebrados me causaram todos os tipos de problemas adicionais – a cicatriz nos meus pés, bolhas e inchaço fez com quem um dos ossos do meu dedo aparecessem, mas apesar de tudo isso eu terminei a corrida… Porque quando as coisas ficam ruins e eu me sinto melancólica, eu me apego às minhas razões para estar ali e no que essa realização poderia causar.

As Maratonas Polares

Tendo completado a maratona dos Sables, decidi dar uma chance às maratonas polares (do polo norte e Antartic Ice) simplesmente por que eram um extremo completamente oposto. Eu não sabia como, ou se eu podia lidar com a brutalidade das condições geladas. Eu acho que me choquei ainda mais do que os outros competidores quando venci a primeira corrida no Polo Norte, alcançando muito além da pontuação destes e até mesmo estabelecendo um novo recorde!

Após essa vitória, outros competidores que eram mais especializados nessa modalidade de corrida me sugeriram que eu considerasse enfrentasse o recorde mundial tentando me tornar a mulher mais rápida a correr uma maratona em todos os continentes, incluindo o Polo Norte.

Já que ingressei na corrida da Antartic sete meses depois, era uma opção. Porém a realidade de obter fundos para tal propósito fazia parecer menos viável com o decorrer do tempo. Foi apenas no último minuto, em Agosto, que eu decidi que tinha de ir.

A publicidade que eu receberia como uma vegana cumprindo tal desafio com sucesso era algo que eu não podia me dar o luxo de perder nos meus esforços de promover ética de viver a base de vegetais para as populações. Na época, a única fonte potencial de dinheiro no meu horizonte era hipotecar as casas dos meus pais.

Mas, felizmente, no último momento, um patrocinador privado surgiu e me ofereceu ajuda. Foi então que o frenesi do desafio começou.

Tornando-me a mulher mais rápida a correr em todos os continentes

A cada uma ou duas semanas, eu me retirava por poucos dias em direção a um continente diferente, saindo do avião rapidamente, correndo uma maratona, e então retornando diretamente para casa a fim de cuidar dos animais. Fiz a jornada do Reino Unido à Austrália e estava de volta em menos de quatro dias, sem me incomodar com a diferença de horários – e acabei conquistando um lugar no pódio da maratona, para arrancar!

Essas semanas foram muito cansativas e estressantes. Tentar me manter bem e sem machucados e manter a capacidade física de ficar bem em todas as corridas era um desafio imenso em vários aspectos. Tudo quase caiu aos pedaços na penúltima corrida – a com altitude mais alta – no deserto de Atacama. A fim de economizar o dinheiro e tempo necessários para duas viagens caras rumo à América do sul (uma para competir lá e uma rumo à Antártica), eu combinei as viagens. Porém feri meu joelho na corrida do Atacama de maneira tão severa que os médicos me disseram que não seria possível correr mais durante aquele ano, e muito menos cinco dias em Antártica. Eu estava desesperada e desapontada.

Neste ponto eu estava correndo tão rapidamente que havia o potencial de estabelecer três recordes mundiais. Eu precisava ir e tentar completar a corrida na Antártica. Mesmo que eu tivesse que perambular, eu tinha que terminar. Enquanto estava na linha de partida me senti nervosa, aterrorizada e desmoralizada, mas não vencida – nunca vencida, até realizar minha ultima respiração. Eu não consigo me lembrar muito sobre a corrida além do fato de ter sido difícil e estar frio. Eu estabeleci um novo recorde mundial tendo corrido 7 maratonas em 7 continentes em 23 horas e 27 minutos. Como eu ganhei, como eu quebrei o recorde de tal percurso, eu não sei. Tudo que sei é o que fiz em 2013 – não por mim, mas pelos animais.

O que vem depois

Agora é hora de despertar e olhar para a frente. Esse ano tentarei quebrar meus próprios recordes mundiais na Maratona de Londres em Abril, na qual eu tenho um lugar de elite. Lá, entre alguns dos melhores corredores do mundo, eu estarei particularmente orgulhosa de usar minha vestimenta de corredora vegana, como membro honorária do clube após ter sido a peça a iniciá-lo há onze anos.

Então, após três semanas, tentarei me tornar uma de poucas mulheres a completarem o 4 Deserts Grand Slam – um evento ultra pesado que consiste em uma semana nos desertos do Sahara, Gobi, Atacama e nos desertos Antárticos. Tais corridas são mentalmente, fisicamente, espiritualmente e logisticamente desafiadores – porém, certamente servem para provar que o veganismo é uma opção válida e disponível para todos.

Além de tudo, quem sabe? Tudo o que eu sei é que para mim os animais sempre virão primeiro.

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Assista Pelos Animais, um documentário sobre Fiona.

Traduzido por Andressa Aricieri.

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