(Português) Ovos livres de gaiolas são uma falácia, não existem ovos éticos

ORIGINAL LANGUAGES, 13 Feb 2017

Chas Newkey-Burden -- Agência de Notícias de Direitos Animais-ANDA

Foto: Alamy

1 fev 2017 – As pessoas que comem carne podem pensar que veganos as olham com um ar de superioridade, mas nada é mais desprezível do que a indústria de carne que as alimenta. Enquanto os trabalhadores da linha de frente matam 22 milhões de animais diariamente apenas no Reino Unido, há pessoas que recolhem essas carcaças, empacotando-as e usando palavras inventivas para esconder a verdade do consumidor.

Entre todas as enganações, o ovo “livres de gaiolas” é talvez a mais audaciosa. Você precisa ter uma imaginação no nível da Disney para acreditar que o Reino Unido pode produzir mais de 10 bilhões de ovos por ano sem explorar galinhas. Mas, ao colocar “livres de gaiolas” no rótulo, e talvez uma cena pastoral agradável com algumas galinhas vagando livremente, a maioria dos consumidores nunca percebe como aqueles ovos foram parar em uma caixa.

A questão do ovo ético está de volta à agenda depois que o governo ordenou que, diante da gripe aviária, as aves devem ser mantidas em ambientes internos até pelo menos o final de fevereiro. Isto significa que os ovos “livres de gaiolas” podem ter de ser renomeados como “ovos de celeiro”. Contudo, independentemente de como forem chamados, poucos compradores sabem o que essa “liberdade” significa e que uma rotina de horror é permitida sob essa bandeira reconfortante.

O corte dos bicos é uma prática comum no Reino Unido. Quase todas as galinhas jovens têm parte de seus bicos queimados sem anestésico para impedi-las de bicar outras aves traumatizadas em seus recintos apertados. Os galpões sem gaiolas podem conter até nove aves por metro quadrado – o que é equivalente a 14 adultos vivendo em um apartamento de um quarto.

Alguns galpões de vários níveis (ainda “livres de ajulas”) contêm 16 mil galinhas. Assim, enquanto estas pobres aves podem teoricamente ficar ao ar livre, elas também são demasiadamente abarrotadas e muito traumatizadas para encontrar os poucos buracos de saída.

Elas são obrigadas a viver em um inferno: na natureza, as galinhas botam apenas 20 ovos por ano, mas, nas fazendas modernas com uma iluminação constante, botam aproximadamente 500 ovos anualmente. Seus corpos esgotados são então descartados em meses – rotineiramente enviados para o matadouro – depois de viverem menos de um décimo de sua expectativa de vida natural.

Esta é uma vida longa em comparação com os pintinhos. Eles são financeiramente inúteis para os produtores de ovos e, portanto, mortos horas depois do nascimento. Diariamente, números inimagináveis de pintinhos são lançados sem cerimônias em uma máquina e triturados vivos ou gaseados com dióxido de carbono ou simplesmente despejados em uma sacola para morrerem sufocados. Então, sim, vamos falar sobre a ética no meio dessa crueldade.

Uma maneira de evitar ovos colocados por galinhas que têm os bicos cortados é comprá-los de fazendas orgânicas certificadas pela Soil Association, que proíbe a prática. No entanto, isso não aborda outras preocupações de bem-estar, nem mesmo o destino dos pintinhos.

Pesquisadores da indústria têm proposto uma abordagem geneticamente modificada sob a qual os embriões femininos são identificados antes da eclosão tornando-os fluorescentes sob a luz ultravioleta. Isso significa que os pintinhos podem ser identificados antes da eclosão. Para algumas pessoas este é um passo à frente, mas para muitas a proposta meramente produz um novo dilema moral.

Enquanto isso, a questão dos ovos éticos continua sendo uma pedra de toque popular do comedor de carne que fica na defensiva. Essas pessoas perguntarão a um vegano: “Diga-me, se eu mantivesse galinhas, que foram autorizadas a vagar livremente e viver plenamente, você comeria seus ovos?”

Oh, como os consumidores de carne amam uma ordem lateral de um cenário hipotético: se um porco tivesse uma vida feliz e amorosa 24 horas por dia em condições perfeitas, bem-aventuradas e, em seguida, fosse suavemente acariciado antes de dormir, você comeria sua carne? Se você ficasse preso em uma ilha deserta e só pudesse sobreviver comendo animais, iria comê-los?

Este é apenas um deslocamento autoindulgente realizado por pessoas que querem ignorar os horrores das fazendas indústrias e dos matadouros, mas os financiam de qualquer maneira. As pessoas que descrevem essa produção teórica de ovos não executam realmente tais operações, nem mesmo compram seus ovos dessas fazendas. Na verdade, poucas pessoas até mesmo compram ovos orgânicos: dos 12,2 bilhões de ovos vendidos no Reino Unido em 2015, apenas 2% eram orgânicos.

De uma perspectiva vegana, a resposta é mais holística e filosófica: devemos parar de considerar os animais como mercadorias. Devemos cessar nossa guerra global contra os animais e aprender a viver em harmonia. Assim, para os veganos, o próprio conceito do ovo ético é essencialmente um oximoro.

Ou talvez não inteiramente. Um dos meus amigos veganos faz “ovos” alternativos usando bolas de sementes de linhaça e purê de banana. Se isso soa um pouco bizarro (e confesso que para mim parece) lembrar o que os ovos “reais” representam – milhões de animais obrigados a enfrentar a dor e vidas miseráveis para que os seres humanos possam consumir o produto da menstruação da galinha como uma fonte de proteína ou para fazer bolos. A crueldade foi normalizada. É por isso que escondem a verdade.

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Tradução de Aline Khouri/ Redação ANDA–Agência de Notícias de Direitos Animais.

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