(Português) Pecuarista que encomendou morte de ativistas da Amazônia continua impune

ORIGINAL LANGUAGES, 30 Nov 2020

David Arioch | Vegazeta – TRANSCEND Media Service

De acordo com o juiz Raimundo Moises Flexa, o pecuarista que está foragido há seis anos agiu com culpabilidade fria, covarde e premeditada.

Maria do Espírito Santo e José Cláudio Ribeiro da Silva foram assassinados a tiros em 2011 em Nova Ipixuna, no Pará. (Foto: CNS)

tivistas da Amazônia, José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo foram assassinados a tiros em 2011 em Nova Ipixuna, no sudeste do Pará. A tragédia teve repercussão internacional à época e foi comparada aos assassinatos de Chico Mendes e da freira Dorothy Stang. O casal, que ganhou as manchetes do The Guardian, New Tork Times, Wall Street Journal, Vice e Al Jazeera, fazia parte do grupo ambientalista Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS).Zé Cláudio e Maria desempenhavam um trabalho diário em defesa da floresta tropical amazônica, denunciando o desmatamento e a compra ilegal de terras, e já tinham recebido ameaças de morte de criadores de gado, madeireiros e carvoeiros. Em 2008, um relatório de um grupo de defesa dos direitos humanos incluiu José Cláudio em uma lista de ambientalistas da Amazônia ameaçados de morte.

Em 2010, o ativista participou da conferência TEDxAmazônia, em Manaus, onde expressou preocupação por sua segurança – inclusive previu que seria morto como retaliação por seu trabalho, segundo informações da organizaçãoFrontline Defenders. E foi o que aconteceu. Em 24 de maio de 2011, o casal foi morto a tiros dentro do Projeto Agroextrativista Praialta-Piranheira, onde vivia. O crime foi cometido por Lindonjonson Silva Rocha e Alberto Nascimento.

Fazendeiro encomendou crime do casal

O primeiro é irmão do pecuarista José Rodrigues Moreira, mandante do crime. Sobre a tragédia, a polícia descobriu que o fazendeiro foi denunciado por compra ilegal de lotes de terras do projeto agroextrativista. Também foram encontrados indícios de um consórcio envolvendo pecuaristas de Nova Ipixuna, que visavam grilagem e reconcentração de terras na região.

“José e Maria, como sempre fizeram, denunciaram tanto a compra ilegal quanto a violência utilizada para expulsar famílias de suas casas”, informa publicação darevista TRIP. No dia 4 de abril de 2013, um júri em Marabá, no Pará, sentenciou Lindonjonson Silva Rocha e Alberto Lopes do Nascimento a 42 e 45 anos de prisão pelo duplo homicídio. José Rodrigues Moreira, o mentor intelectual dos assassinatos, foi absolvido como resultado de evidências insuficientes contra ele – destaca aFrontline Defenders.

Silva Rocha fugiu do Centro de Recuperação Agrícola Mariano Antunes, em Marabá, em novembro de 2015 e foi recapturado em agosto deste ano. A suspeita é de que ele teve a fuga facilitada. “O outro assassino, Alberto Lopes, pegou 42 anos de cadeia e permanece preso”, pontua a organização Greenpeace.

Mandante está foragido desde 2014

Em 6 de dezembro de 2016, o mandante José Rodrigues Moreira foi novamente julgado, e o Tribunal do Júri de Belém o condenou a 60 anos de prisão por duplo homicídio qualificado. No entanto, Moreira está foragido desde 2014, quando o Ministério Público anulou o julgamento anterior. De acordo com o juiz Raimundo Moises Flexa, o condenado agiu com culpabilidade fria, covarde e premeditada.

Conforme informações do portal Último Segundo, do IG, o casal José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo vivia há 24 anos em Nova Ipixuna. Eles moravam em uma área de aproximadamente 20 hectares, com 80% de área verde preservada. Sobreviviam da extração de óleos de andiroba e castanha, e recentemente tinham firmado um convênio com a Universidade Federal do Pará (UFPA) para a produção sustentável de óleos vegetais.

“Eles nunca se corromperam. Quando puderam, denunciaram as violações contra o meio ambiente. Foram vítimas do violento capitalismo colonialista que opera no sul do Pará misturado a uma opressão medieval e à omissão do Estado”, escreveu o jornalista Felipe Milanez emseu blog.

Em 2018, a irmã de José Cláudio, Claudelice Santos, em entrevista aoNotícias ao Minuto, de Portugal, denunciou que sua família sofreu ameaças durante anos, e foram obrigados a deixar Nova Ipixuna e se mudar para Marabá. “Até hoje é perigoso ir ao assentamento”, porque as pessoas que cometeram o crime estão soltas”, disse. Apesar de tudo, Claudelice tem tentado dar continuidade ao trabalho do irmão, inclusive participando de fóruns e conferências sobre meio ambiente.

Saiba Mais

Segundo relatório da Anistia International, Comissão Interamericana de Direitos Humanos e da organização Frontline Defenders publicado em 2017, o Brasil, a Colômbia, as Filipinas e o México são os quatro países com maior número de homicídios de ativistas.

_____________________________________________

 

David Arioch é jornalista profissional, historiador e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário.

 

Go to Original – vegazeta.com.br


Tags: , , ,

 

Share this article:


DISCLAIMER: The statements, views and opinions expressed in pieces republished here are solely those of the authors and do not necessarily represent those of TMS. In accordance with title 17 U.S.C. section 107, this material is distributed without profit to those who have expressed a prior interest in receiving the included information for research and educational purposes. TMS has no affiliation whatsoever with the originator of this article nor is TMS endorsed or sponsored by the originator. “GO TO ORIGINAL” links are provided as a convenience to our readers and allow for verification of authenticity. However, as originating pages are often updated by their originating host sites, the versions posted may not match the versions our readers view when clicking the “GO TO ORIGINAL” links. This site contains copyrighted material the use of which has not always been specifically authorized by the copyright owner. We are making such material available in our efforts to advance understanding of environmental, political, human rights, economic, democracy, scientific, and social justice issues, etc. We believe this constitutes a ‘fair use’ of any such copyrighted material as provided for in section 107 of the US Copyright Law. In accordance with Title 17 U.S.C. Section 107, the material on this site is distributed without profit to those who have expressed a prior interest in receiving the included information for research and educational purposes. For more information go to: http://www.law.cornell.edu/uscode/17/107.shtml. If you wish to use copyrighted material from this site for purposes of your own that go beyond ‘fair use’, you must obtain permission from the copyright owner.


Comments are closed.