(Português) Como ignorar a violência por trás do leite e dos derivados?

ORIGINAL LANGUAGES, 30 May 2022

David Arioch | Vegazeta – TRANSCEND Media Service

Vegazeta

30 de maio de 2022 – Quando vejo as longas fileiras de caixas de leite no supermercado, não consigo ignorar a violência por trás daqueles produtos que parecem de origem pacífica. E assim parecem porque esse é o poder da dissimulação do consumo. As pessoas apenas passam e empurram caixas para dentro do carrinho ou colocam em suas cestas e continuam suas compras.

A impressão retorna na seção de laticínios, onde há uma infinidade de produtos a partir do sistema industrial que não apenas oferece opções ao consumidor, mas também a comodidade de não precisar refletir sobre a vida e morte dos animais envolvidos nesse processo. Mais fácil ainda é ignorar tantos outros produtos, que trazem leite e outros ingredientes lácteos na composição e passam despercebidos por muitos.

Tenho o mesmo olhar de estranhamento em relação aos comerciais, em que celebridades ganham centenas de milhares de reais, ou até milhões, dependendo da duração da campanha, para promover novos produtos lácteos ou convencer a população a continuar consumindo laticínios.

Mas por que devo consumir um alimento que depende de animais em fase de lactação, aptos a nutrirem seus filhotes? Consumir um alimento que naturalmente não existe para minha nutrição é estranho. E quanto mais leite, ou produtos com leite, consumimos, pior é a situação dos animais. Só em 2021, durante a pandemia, os brasileiros consumiram 6,7 bilhões de litros de leite longa vida.

Separação precoce, descarte de bezerros, descarte de vacas, morte prematura, desenvolvimento de doenças, incluindo mamárias (que são comuns), redução da expectativa de vida – tudo isso é inerente a uma realidade de alto consumo de laticínios. Devo ignorar que a ordenha mecânica, que responde pela maior parte da produção leiteira, exige muito glicogênio do animal?

Por ano, até 30% das vacas leiteiras são abatidas – destino que estende-se a todas nesse sistema – já que a “ineficiência produtiva” resulta no animal vendido para o frigorífico e abatido. Então ocorre o que chamam de “reposição”.

O que também não ajuda é que em 2021 o Brasil regulamentou o abate de vacas em fase final de gestação. É algo cruel. Na portaria consta que os fetos não devem ser removidos do útero antes de cinco minutos após o término da sangria da fêmea gestante; e se um feto “maduro” e vivo for removido do útero, ele deve ser impedido de inflar seus pulmões e respirar o ar.

“Se houver dúvidas quanto ao estado de inconsciência do feto, este deve ser morto mediante uso de dispositivo de dardo cativo de tamanho compatível ou com um golpe na cabeça com instrumento contundente”, sugere o Regulamento Técnico de Manejo Pré-abate e Abate Humanitário.

Sim, é algo terrível e muitas pessoas “pró-vida” ignoram tal barbárie. Mas o que permite ao governo regulamentar essas “normas técnicas de abate”? Sem dúvida, o alto consumo de laticínios. Afinal, a ânsia pela flexibilidade no processo de “produção animal”, que intensifica a crueldade, só existe porque há uma elevada demanda que estimula esse tipo de prática.

Enfim, o lucro associado a esse tipo de conduta arbitrária em relação aos animais só é possível porque há muitas pessoas nos mercados em busca de leite e produtos à base de leite e/ou com leite.

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David Arioch é jornalista profissional, historiador e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR). http://davidarioch.com

 

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