(Português) A Arte da Guerra: «Soberania» de Bruxelas, não de Washington?

ORIGINAL LANGUAGES, 4 Jun 2018

Manlio Dinucci – TRANSCEND Media Service

4 junho 2018 – Steve Bannon – o antigo estratéga de Donald Trump, teórico do nacional-populismo – exprimiu o seu apoio entusiástico à aliança Lega-Movimento 5 Stelle para «o governo da mudança». Numa entrevista (Sky TG24, 26 maggio)  declarou:

«Durante Março, a questão fundamental, em Itália foi a questão da soberania. O resultado das eleições foi ver estes italianos que queriam recuperar a soberania, controlar o seu país. Basta de regras que chegam de Bruxelas». 

No entanto, não diz «basta de ordens que chegam de Washington».

Não é apenas a União Europeia que exerce pressão sobre a Itália para orientar as suas escolhas políticas, dominada pelos poderosos círculos económicos e financeiros, especialmente os alemães e os franceses, que temem uma rotura das “normas”, úteis aos seus interesses.

É exercida uma forte pressão  sobre a Itália, pelos Estados Unidos, de maneira menos evidente, mas não menos agressiva, que temem uma ruptura dos “preceitos” que subordinam a Itália aos seus interesses económicos e estratégicos.

Isto faz parte das políticas que Washington adopta para a Europa, através de diversas administrações e com métodos diferentes, perseguindo sempre o mesmo objectivo: manter a Europa sob a influência dos EUA.

A ferramenta fundamental desta estratégia é a NATO. O Tratado de Maastricht estabelece, no art. 42,   que “a União respeita as obrigações de alguns Estados membros, que acreditam que a sua defesa comum é conseguida através da NATO”. E o protocolo n. 10 sobre a cooperação, estabelece que a NATO “continua a ser a base da defesa” da União Europeia.

Hoje, 21 dos 27 países da União Europeia, com cerca de 90% da população da União, fazem parte da NATO, cujas “normas” permitem que os EUA mantenham, desde 1949, a posição de Comandante Supremo Aliado na Europa e de todos os outros comandos-chave; eles permitem que os Estados Unidos determinem as escolhas políticas e estratégicas da Aliança, concordando, em segredo, especialmente com a Alemanha, França e Grã-Bretanha, tornando-as aprovadas pelo Conselho do Atlântico Norte, no qual, de acordo com as “regras” da NATO, não há voto ou decisão maioritária, mas as decisões são sempre tomadas por unanimidade.

A adesão dos países de Leste à NATO – anteriormente membros do Pacto de Varsóvia, da Federação Jugoslava e mesmo da URSS – permitiu aos Estados Unidos ligar esses países (além da Ucrânia e da Geórgia, de facto, já na NATO), mais a Washington do que a Bruxelas.

Washington conseguiu, assim, empurrar a Europa para uma nova Guerra Fria, colocando-a  na primeira linha da frente, de um confronto cada vez mais perigoso com a Rússia, útil aos interesses políticos, económicos e estratégicos dos Estados Unidos.

Típico é o facto de que, na semana em que a Europa se debatia arduamente sobre a “questão italiana”,desembarcava em Antuérpia (Bélgica), a 1ª Brigada Blindada da 1ª Divisão de Cavalaria dos EUA, proveniente de Fort Hood, no Texas, sem causar qualquer reacção significativa. Desembarcaram 3.000 soldados, com 87 tanques Abrams M-1, 125 veículos de combate Bradley, 18 canhões móveis Paladin, 976 veículos militares e outros equipamentos, que serão posicionados em cinco bases na Polónia e enviados daí para contornar o território russo.

Continua-se a “melhorar a prontidão e a letalidade das forças USA na Europa”, destinando 16,5 biliões de dólares  desde 2015.

Assim, enquanto desembarcavam na Europa os tanques enviados por Washington, Steve Bannon incitava os italianos e os europeus a “reconquistar a sua soberania” que se encontra na posse de Bruxelas.

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Manlio Dinucci geógrafo e geopolítico, jornalista e ensaísta, viveu e trabalhou em Pequim na década de 1960,  contribuindo para a publicação da primeira revista chinesa em língua italiana. Baseado nessa experiência publicou, con a Mazzotta Editore, La lotta di Classe in Cina / 1949-1974 (1975) e Economia e organização do trabalho na China (1976). Na década de 1980, dirigiu a revista Lotta per la pace (nascida do «Apelo contra a instalação de mísseis nucleares em Itália») e foi director executivo para a Itália do International Physicians for the Prevention of Nuclear War, associação vencedora do Prémio Nobel da Paz em 1985. Últimas publicações : L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016; Guerra Nucleare Il Giorno Prima, Zambon Editore; 2017.

Il manifesto, 29 de Maio de 2018 – http://eur-lex.europa.eu/resource.html?uri=cellar:9e8d52e1-2c70-11e6-b497-01aa75ed71a1.0019.01/DOC_2&format=PDF

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos

This article originally appeared on Transcend Media Service (TMS) on 4 Jun 2018.

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