(Português) Leia com exclusividade mais trechos do livro de Glenn Greenwald

ORIGINAL LANGUAGES, 19 May 2014

Gilberto Scofield – O Globo

Jornalista relata o encontro com Edward Snowden, que revelou aparato de espionagem dos EUA sobre cidadãos.

Glenn Greenwald durante depoimento na Comissão de Relações Exteriores do Senado, em Brasília: revelações agora em livro Ailton de Freitas/6-8-2013

Glenn Greenwald durante depoimento na Comissão de Relações Exteriores do Senado, em Brasília: revelações agora em livro Ailton de Freitas/6-8-2013

Na próxima terça-feira [13 maio 2014] a editora americana Farrar, Straus & Giroux faz o lançamento mundial de um dos livros mais esperados do ano: “Sem lugar para se esconder”, do ex-advogado e jornalista americano Glenn Greenwald, que conta a histórica denúncia sobre como a Agência de Segurança Nacional americana (NSA) espionava de cidadãos e instituições americanas a governos e empresas de outros países. A arapongagem foi vazada por Edward Snowden, funcionário terceirizado da NSA e as denúncias mexeram com o planeta e renderam vários prêmios aos jornalistas envolvidos na cobertura do evento — incluindo o Pulitzer 2014 na categoria serviço público — além de Greenwald, como Laura Poitras, Ewen MacAskill e Barton Gellman.

No Brasil, Greenwald contou, com a colaboração dos jornalistas Roberto Kaz e José Casado, do GLOBO, a espionagem a cidadãos e empresas no Brasil, trabalho que ganhou o Prêmio Esso de Melhor Reportagem em 2013. Por aqui, o livro “Sem lugar para se esconder” é publicado pelo selo Primeira Pessoa, da Editora Sextante, e traz com detalhes os bastidores dessa investigação internacional e as opiniões de Greenwald sobre governos invasivos e sobre a postura por vezes pouco crítica da mídia em relação a governos. O GLOBO publica com exclusividade um trecho de “Sem lugar para se esconder”.

“Sem lugar para se esconder”

De Glenn Greenwald

Na quinta-feira, meu quinto dia em Hong Kong, quando cheguei ao quarto de Snowden, ele me disse na hora que tinha uma notícia “um pouco alarmante”. Um equipamento de segurança conectado à internet da casa em que ele morava com a namorada de longa data no Havaí havia detectado que duas pessoas da NSA – um funcionário de recursos humanos e um “agente de polícia” da agência – tinham ido até lá à sua procura.

Snowden tinha quase certeza de que isso significava que a NSA o identificara como a fonte provável dos vazamentos, mas eu me mostrei cético.

– Se eles achassem que você fez isso, mandariam hordas de agentes do FBI com mandados de busca, e provavelmente equipes da SWAT, não um único funcionário da NSA e alguém de recursos humanos.

Calculei que aquilo fosse apenas uma investigação de rotina, pro forma, acionada quando um empregado da NSA falta algumas semanas ao trabalho sem dar explicação. Snowden, contudo, sugeriu que eles talvez estivessem sendo discretos de propósito, para evitar atrair a atenção da mídia ou acarretar alguma tentativa de destruir indícios.

O que quer que aquela notícia significasse, ela ressaltava a necessidade de preparar rapidamente nossa matéria e o vídeo que identificaria Snowden como a fonte do vazamento. Fazíamos questão de que o mundo ouvisse falar pela primeira vez nele, em suas ações e em seus motivos de sua própria boca, e não por meio de uma campanha de demonização propalada pelo governo dos Estados Unidos enquanto ele estivesse escondido ou preso, sem poder falar por si.

Nosso plano era publicar mais duas matérias no Guardian e então soltar um longo artigo sobre Snowden acompanhado de uma entrevista em vídeo e um bate-bola impresso com ele.

Laura havia passado as 48 horas anteriores editando as imagens de minha primeira entrevista com Snowden, mas disse que o material era detalhado, longo e fragmentado demais para poder ser usado. Queria filmar logo outra entrevista, mais concisa e focada, e elaborou uma lista com cerca de vinte perguntas específicas para que eu lhe fizesse. Enquanto ela montava a câmera e nos indicava onde sentar, acrescentei várias outras.

O vídeo agora famoso começa assim: “Ahn… meu nome é Ed Snowden. Tenho 29 anos. Trabalho para a Booz Allen Hamilton como analista de infraestrutura terceirizado para a NSA no Havaí.”

Snowden prosseguiu com respostas sucintas, estoicas e racionais a cada pergunta: por que decidira vazar aqueles documentos? Por que aquilo era tão importante para ele a ponto de levá-lo a sacrificar a própria liberdade? Quais eram as revelações mais importantes? Os documentos denunciavam algo criminoso ou ilegal? O que ele imaginava que iria lhe acontecer?

Conforme ia dando exemplos de vigilância ilegal e invasiva, Snowden começou a se mostrar mais animado e arrebatado. Foi só quando lhe perguntei se ele esperava alguma repercussão que demonstrou preocupação, pois temia que o governo, como retaliação, começasse a visar sua família e sua namorada. Para reduzir esse risco, falou, evitaria entrar em contato com eles, mas sabia que não poderia protegê-los totalmente. “Esta é a única coisa que me tira o sono: pensar no que vai acontecer com eles”, afirmou, com os olhos marejados; foi a primeira e única vez que vi isso acontecer.

O astral relativamente descontraído que conseguíramos manter ao longo dos dias anteriores deu lugar outra vez a uma ansiedade palpável: faltavam menos de 24 horas para revelarmos a identidade de Snowden, e sabíamos que isso mudaria tudo – especialmente para ele. Nós três tínhamos compartilhado uma experiência curta, mas muito intensa e gratificante. E um de nós seria, em breve, retirado do grupo e sem dúvida despachado para a prisão por muito tempo, um fato que pairava no ar de modo deprimente desde o início, tornando o clima pesado, ao menos para mim. Apenas Snowden parecera imune a esse fato. Agora, um humor negro nervoso começava a se insinuar em nossa interação.

“Eu fico com a cama de baixo do beliche em Guantanamo”, brincava ele ao imaginar o que iria nos acontecer. Enquanto conversávamos sobre matérias futuras, Snowden dizia coisas do tipo “Isso aí vai entrar na acusação. Só resta saber se na sua ou na minha”. Na maior parte do tempo, ele manteve uma calma inimaginável. Mesmo então, com seu tempo de liberdade cada vez mais perto de se esgotar, continuava indo para a cama às dez e meia, como tinha feito todas as noites desde que eu chegara a Hong Kong. Enquanto eu mal conseguia dormir duas horas seguidas, e tinha sempre um sono agitado, ele mantinha uma rotina regular. “Bom, vou deitar”, dizia de forma casual todas as noites antes de se retirar para sete horas e meia de sono profundo e reaparecer no dia seguinte, totalmente descansado.

Quando lhe perguntamos sobre sua capacidade de dormir tão bem naquelas circunstâncias, ele respondeu que sentia uma paz profunda em relação ao que tinha feito, e que portanto era fácil dormir à noite.

– Imagino que me restem muito poucos dias com um travesseiro confortável, então é melhor aproveitar – brincou.

(…)

No dia 9 de junho, um domingo, às duas da tarde no horário da Costa Leste dos Estados Unidos, o Guardian publicou a matéria que apresentava Snowden ao mundo: “Edward Snowden: o delator responsável pelas revelações sobre a vigilância da NSA”. A matéria trazia sua biografia, enumerava suas motivações e afirmava: “Snowden vai entrar para a história como um dos delatores mais importantes dos Estados Unidos, ao lado de Daniel Ellsberg e Bradley Manning.” Citava também o texto que ele mostrara logo no início a Laura e a mim: “Entendo que serei obrigado a responder pelos meus atos, [mas] ficarei satisfeito se o conluio de leis secretas, perdão desigual e poderes executivos ilimitados que governa o mundo que amo for desmascarado, nem que seja por um único instante.”

A reação provocada pela matéria e pelo vídeo foi mais explosiva do que qualquer outra coisa que eu já vivenciara como jornalista. O próprio Ellsberg, em um texto publicado pelo Guardian no dia seguinte, afirmou que “jamais houve, em toda a história dos Estados Unidos, vazamento mais importante do que a revelação do material da NSA por Edward Snowden – nem mesmo, seguramente, os Documentos do Pentágono, quarenta anos atrás”.

Só nos primeiros dias, centenas de milhares de pessoas postaram o link para a matéria em seus perfis no Facebook. Quase 3 milhões de pessoas assistiram à entrevista no YouTube, e muitas outras no site do Guardian. A reação predominante era de assombro e inspiração com a coragem de Snowden.

Ele, Laura e eu acompanhamos juntos a repercussão da revelação de sua identidade, enquanto eu também avaliava, junto com dois estrategistas de mídia do Guardian, quais entrevistas televisivas deveria aceitar fazer na manhã de segunda-feira. Optamos pelo programa Morning Joe, da MSNBC, seguido pelo Today Show, da NBC – os dois primeiros a irem ao ar, que dariam o tom da cobertura do caso ao longo do dia.

Antes que eu pudesse dar as entrevistas, porém, fomos distraídos por um telefonema: às cinco da manhã – poucas horas depois de publicada a matéria sobre Snowden –, um leitor meu muito antigo que mora em Hong Kong e com quem eu havia me comunicado periodicamente ao longo da semana me ligou. Afirmou que o mundo inteiro logo estaria à procura de Snowden em Hong Kong e insistiu que ele precisava, com urgência, arrumar advogados influentes na cidade. Estava com dois dos melhores advogados de direitos humanos de prontidão, dispostos a representá-lo. Será que os três podiam ir ao meu hotel naquele mesmo instante? prontidão, dispostos a representá-lo. Será que os três podiam ir ao meu hotel naquele mesmo instante?

Combinamos nos encontrar pouco tempo depois, por volta das oito. Dormi por algumas horas até que ele ligou, uma hora antes, às sete.

– Já estamos aqui no lobby do seu hotel – falou. – Estou com os dois advogados. Aqui está lotado de câmeras e jornalistas. A imprensa está procurando o hotel de Snowden e não vai demorar a encontrar, e os advogados estão dizendo que é fundamental falarem com ele antes dos jornalistas.

Ainda meio dormindo, vesti as primeiras roupas que consegui encontrar e fui cambaleando até a porta. Assim que a abri, os flashes de várias câmeras dispararam na minha cara. A horda de repórteres com certeza devia ter pago algum funcionário do hotel para conseguir o número do meu quarto. Duas mulheres se identificaram como repórteres do Wall Street Journal baseadas em Hong Kong; outros, inclusive um cinegrafista com uma câmera bem grande, eram da Associated Press.

Eles formaram um semicírculo à minha volta, sabatinando-me enquanto eu caminhava até o elevador. Entraram na cabine junto comigo, metralhando perguntas; respondi à maioria delas com monossílabos sucintos, secos e pouco informativos.

No lobby, um novo enxame de câmeras e jornalistas se juntou ao grupo. Tentei procurar meu leitor e os advogados, mas não conseguia avançar meio metro sem que algum repórter entrasse na minha frente.

Fiquei particularmente preocupado que aquela multidão tentasse me seguir e impedisse o acesso dos advogados a Snowden. Por fim, decidi dar uma coletiva improvisada ali mesmo, no lobby, e responder às perguntas para que os jornalistas fossem embora. Depois de uns quinze minutos, a maioria de fato se dispersou.

Senti, então um grande alívio ao esbarrar com Gill Phillips, principal advogada do Guardian, que tinha feito escala em Hong Kong em uma viagem da Austrália para Londres a fim de prestar assessoria jurídica a Ewen e a mim. Ela disse que queria explorar todos os modos possíveis de o Guardian proteger Snowden. “Alan faz questão de que o jornal dê a ele todo o apoio que puder legalmente”, falou. Tentamos conversar mais, porém não conseguimos ter privacidade, pois alguns dos repórteres continuavam rondando.

Enfim consegui localizar meu leitor e os dois advogados de Hong Kong que o acompanhavam. Tentamos arrumar um jeito de nos falar sem sermos seguidos e acabamos todos no quarto de Gill. Batemos a porta na cara do punhado de jornalistas que ainda nos seguia.

Fomos direto ao assunto. Os advogados queriam falar com Snowden com urgência e obter sua permissão formal para que o representassem, quando então poderiam começar a agir em seu nome.

Gill fazia pesquisas frenéticas pelo celular para investigar aqueles advogados que acabáramos de conhecer antes de lhes entregar Snowden. Ela conseguiu descobrir que eles eram mesmo bastante conhecidos e experientes na área de direitos humanos e asilo a refugiados, e pareciam muito bem relacionados politicamente em Hong Kong. Enquanto Gill realizava sua pesquisa improvisada, entrei no programa de chat. Tanto Snowden quanto Laura estavam on-line.

Laura, agora hospedada no mesmo hotel que Snowden, tinha certeza de que era só uma questão de tempo até que os repórteres descobrissem a localização deles também. É claro que ele estava ansioso para sair de lá. Contei-lhe sobre os advogados dispostos a ir até seu quarto e Snowden disse que eles deveriam ir buscá-lo e levá-lo para um lugar seguro. Estava “na hora de começar a parte do plano em que eu peço ao mundo proteção e justiça”, falou.

“Só que eu preciso sair do hotel sem ser reconhecido pelos jornalistas”, prosseguiu. “Caso contrário, eles simplesmente vão me seguir para onde eu for.”

Transmiti essa preocupação aos advogados.

– Ele tem alguma ideia para evitar isso? – indagou um deles.

Fiz a pergunta a Snowden.

“Estou tomando providências para mudar de aparência”, respondeu ele. Ficou claro que já tinha pensado naquilo. “Posso me tornar irreconhecível.”

Àquela altura, pensei que os advogados e Snowden deveriam se falar diretamente. Antes disso, ele precisava recitar uma frase formal sobre aceitar ser representado por eles a partir dali. Mandei a frase para ele, que a digitou de volta para mim. Os advogados então assumiram meu lugar no computador e começaram a falar com ele.

Dali a dez minutos, anunciaram que estavam a caminho do hotel de Snowden para encontrá-lo quando ele tentasse sair sem ser visto.

– O que vocês pretendem fazer com ele depois? – perguntei.

Eles provavelmente o levariam à missão da ONU em Hong Kong e pediriam a proteção formal da organização contra o governo dos Estados Unidos, alegando que Snowden era um refugiado pedindo asilo. Senão, disseram, tentariam arrumar um “esconderijo”.

Mas como conseguir tirar os advogados do hotel sem que ninguém os seguisse? Bolamos um plano: eu sairia do quarto com Gill e desceria até o lobby para convencer os jornalistas ainda acampados em frente à nossa porta a me seguirem. Os advogados, então, aguardariam alguns minutos e iriam embora do hotel, com sorte sem atrair atenção.

O estratagema deu certo. Depois de conversar por meia hora com Gill em um shopping anexo ao hotel, tornei a subir para meu quarto e, ansioso, liguei para o celular de um dos advogados.

– Conseguimos tirá-lo pouco antes de os jornalistas começarem a invadir o lobby – contou ele. – Nós o encontramos em seu quarto, aí atravessamos uma passarela até um shopping anexo ao hotel. – Em frente à sala com o jacaré onde Snowden tinha nos encontrado pela primeira vez, como descobri depois. – Então entramos no nosso carro, que já estava lá. Ele está conosco agora.

Para onde eles iriam levá-lo?

– É melhor não falarmos sobre isso pelo telefone – respondeu o advogado. – Ele vai estar seguro, por enquanto.

Fiquei profundamente aliviado ao saber que Snowden estava em boas mãos, mas nós sabíamos que havia uma grande chance de nunca mais o vermos nem falarmos com ele, pelo menos não enquanto ele fosse um homem livre. O mais provável, pensei, era que o víssemos da próxima vez na TV, em um tribunal dos Estados Unidos, usando o macacão laranja de um presidiário americano e com os pés e mãos acorrentados, sendo indiciado por acusações de espionagem.

Enquanto eu digeria a notícia, alguém bateu na minha porta. Era o gerente geral do hotel, avisando que não paravam de receber ligações para o meu quarto (eu deixara instruções na recepção para que todas as chamadas fossem bloqueadas). Havia também uma multidão de jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas no lobby esperando que eu aparecesse.

– Se o senhor quiser, pode deixar o hotel usando um elevador dos fundos e uma saída que ninguém vai ver – sugeriu ele. – E a advogada do Guardian fez uma reserva em outro hotel com um nome diferente, se for de sua preferência.

Na língua dos gerentes de hotel, aquilo obviamente significava: nós queremos que o senhor saia daqui por causa do caos que está gerando. Eu sabia que aquilo era mesmo uma boa ideia: eu gostaria de continuar a trabalhar com alguma privacidade, e ainda tinha esperanças de manter contato com Snowden. Assim, fiz as malas, segui o gerente pela saída dos fundos, encontrei Ewen me esperando dentro de um carro e me registrei em outro hotel usando o nome da advogada do Guardian.

A primeira coisa que fiz foi me conectar à internet, torcendo para ter notícias de Snowden. Vários minutos depois, ele entrou on-line.

“Está tudo bem”, escreveu. “Estou em um lugar seguro, por enquanto. Só não sei quão seguro, nem quanto tempo vou passar aqui. Vou ter que ficar mudando de lugar e meu acesso à internet é precário, então não sei quando nem com que frequência vou estar logado.”

Ele estava claramente relutante em dar qualquer detalhe sobre sua localização, e eu tampouco perguntei. Tinha consciência de que a minha capacidade de me envolver no processo de escondê-lo era muito limitada. Snowden era agora o homem mais procurado pelo governo mais poderoso do mundo. Os Estados Unidos já haviam solicitado às autoridades de Hong Kong que o prendessem e entregassem aos americanos.

Assim, nossa conversa foi curta e vaga, e ambos expressamos o desejo de manter contato. Eu lhe disse para se cuidar.

(…) 

Quando enfim cheguei ao estúdio para as entrevistas do Morning Joe e do Today Show, reparei no mesmo instante que o teor das perguntas tinha sofrido uma mudança dramática. Em vez de me tratarem como jornalista, as apresentadoras preferiram atacar um novo alvo: o próprio Snowden, agora foragido em Hong Kong. Muitos jornalistas norte-americanos tornaram a assumir seus papéis habituais de vassalos do governo. A notícia não era mais como jornalistas tinham exposto sérios abusos da NSA, mas como um americano que trabalhava para o governo tinha “traído” suas obrigações, cometido crimes e depois “fugido” para a China.

Minhas entrevistas para ambas as apresentadoras – Mika Brzezinski e Savannah Guthrie – foram pungentes, amargas. Sem dormir havia mais de uma semana, não tive paciência para as críticas veladas a Snowden contidas em suas perguntas; na minha opinião, os jornalistas deveriam estar comemorando, não crucificando alguém que dera mais transparência ao Estado de segurança nacional do que qualquer outra pessoa em muitos anos.

Depois de mais alguns dias de entrevistas, decidi que estava na hora de ir embora de Hong Kong. Era óbvio que agora seria impossível encontrar ou mesmo ajudar Snowden na cidade, e àquela altura eu já estava totalmente exausto física, emocional e psicologicamente. Estava louco para voltar ao Rio.

Pensei em retornar por Nova York e ficar lá por um ou dois dias dando entrevistas, só para deixar bem claro que podia fazê-lo e que o faria. No entanto, um advogado me demoveu da ideia, argumentando que não fazia sentido correr riscos legais desse tipo antes de sabermos como o governo dos Estados Unidos planejava reagir.

– Você acabou de facilitar o maior vazamento de segurança nacional da história dos Estados Unidos, e apareceu na televisão com a mensagem mais desafiadora possível – disse ele. – Só faz sentido planejar uma ida ao país quando tivermos ideia de qual vai ser a resposta do Departamento de Justiça.

Eu discordava: achava muito improvável que o governo Obama fosse prender um jornalista no meio de uma reportagem tão em evidência. Mas estava exausto demais para discutir ou correr o risco. Assim, pedi ao Guardian que me pusesse em um voo para o Rio passando por Dubai, bem longe dos Estados Unidos. Por ora, pensei, o que eu tinha feito bastava.

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