(Português) Considerações sobre a violência

ORIGINAL LANGUAGES, 19 Jun 2017

David Arioch | Jornalismo Cultural – TRANSCEND Media Service

A violência é uma forma de descontrole.

A violência é uma forma de descontrole

18 Jun 2017 – Agressividade, violência, são formas de descontrole. Se você não tiver controle sobre isso, isso terá controle sobre você. E quando você achar que está dominando alguma coisa ao fazer uso da agressividade ou da violência, estará apenas sendo subjugado pelo que o priva da sua própria humanidade, sem que você perceba. As consequências disso podem ser o seu próprio definhamento.

Uma briga é sempre uma derrota, tanto para quem vence quanto para quem perde. Para quem perde, porque a violência física dificilmente é esquecida ou deixa de ser materializada em trauma ou grande frustração. Para quem vence, porque, assim como o outro, também provou que não teve controle sobre as próprias emoções, assim cultivando uma inimizade que pode perdurar por toda a vida.

Orgulho de bater em alguém. Por que eu teria orgulho de bater em alguém? O que muda o ser humano para melhor é tocar a sua consciência, não o seu corpo. Se bato em alguém, significa que não tenho mais nada a oferecer além dos meus punhos. Ademais, é estranho reconhecer que há quem revele desprezo e raiva por quem defende a não violência.

Sobre violência, faço questão de compartilhar uma história real que vivi aos 19 anos (Faz parte de uma crônica intitulada “Briga de Rua”). Acredito que não existe melhor forma de desarmar alguém do que subverter expectativas.

“Com 19 anos, fui colocado à prova num início de noite na Avenida Paraná, em frente à antiga Imobiliária Gaúcha, onde alguns amigos marcaram um encontro. Na realidade, era uma armadilha de jovens ébrios. Chegando lá, um deles inventou histórias a meu respeito. Me provocou em vão, pois não reagi. Em silêncio, observei as atitudes dos três que me instigavam a brigar. Sem mover os pés da calçada, me mantive calmo num ambiente hostil. Ainda assim, um deles se aproximou de mim e acertou um soco na minha boca.

O sangue escorreu pelos meus lábios espessos. Experimentei a queimadura do corte no canto superior direito. Na mesma posição, passei o polegar direito pelos lábios, vi o sangue denso, levantei meu dedo banhado em carmesim e perguntei: “Cara, por que você fez isso? É uma pena…” Meu amigo Edson quis bater no agressor, só que eu o impedi porque nada naquele momento me causava medo. “A Morte tinha desaparecido de sua frente e em seu lugar via a luz”, refleti, lembrando-me de Ivan Ilitch, de Tolstói.

Contrariando todas as expectativas, me calei, lavei minha boca em uma torneira instalada no mesmo local e fui em direção à Praça dos Pioneiros, retornando com a roupa avermelhada em algumas partes. Não senti raiva, apenas um misto de pesar e náuseas. Em casa, o sangue foi lavado com lágrimas pachorrentas que já não se repetiam mais. Observava no espelho a abertura no lábio com olhos grandes, então amiudados, e o palato esbraseado pela nebulosa bonomia. Tudo que era palpável no fundo era impalpável. Ao longo de 10 anos, assisti cada um dos envolvidos no episódio aparecer no portão de casa pedindo desculpas.”

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David Arioch é jornalista, pesquisador e documentarista. Trabalha profissionalmente há dez anos com jornalismo cultural e literário.

 

 

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