(Português) Enlatados/Embutidos: Cruéis e Nocivas Misturas de Animais Mortos

ORIGINAL LANGUAGES, 24 May 2021

David Arioch | Vegazeta – TRANSCEND Media Service

São misturas de fragmentos de corpos mortos, de carcaças, suprimidas em algo pequeno que representa a inclemente subjugação da vulnerabilidade não humana.

Quem será que lutou mais pela vida? Qual demorou mais para morrer? Quem perdeu mais sangue? (Pintura: Atan)

21 maio 2021 – Além de não serem saudáveis, e terem o consumo associado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) com um maior risco de desenvolvimento de câncer e doenças cardíacas, os enlatados/embutidos estão em uma categoria de produtos que costumo dizer que representa muito bem a crueldade imposta aos animais por meio do consumo.

Afinal, a composição de muitos embutidos pode ser baseada em carnes de diferentes animais submetidos à violência inerente ao abate. Exemplos? Mortadela que, assim como a linguiça paio, combina carne resultante da matança de bovinos e suínos. O salame também pode trazer a mesma mistura, assim como a salsicha.

Diversos embutidos contam ainda com partes que muitos consumidores desconhecem ou não reconhecem – como língua, coração, fígado, rins, peles e tendões. É fácil dificultar qualquer identificação quando se está diante de uma mistura homogeneizada e, quando industrializada, selecionada mecanicamente.

Pense por um momento no quanto é estranho você cortar uma ou duas fatias de um embutido e ponderar que ali há uma mistura de partes de vários e diferentes animais – carnes, órgãos e mais – que podem ter morrido na mesma data ou não, e que podem ter tentado resistir ao próprio fim de diferentes maneiras.

Quem será que lutou mais pela vida? Qual demorou mais para morrer? Quem perdeu mais sangue? O que seus olhos miravam enquanto eram degolados? Independente de reação, a despersonalização é evidenciada ainda no matadouro, quando, mais do que antes, animais deixam de ser vistos como animais.

Fragmentos de distintos corpos mortos 

Na indústria da carne isso é intensificado quando qualquer associação com o que já foi uma vida torna-se vaga e imperceptível para muita gente. Por exemplo, não há como quantificar em duas fatias de um embutido partes de quantos animais estão ali. Tudo é processado e misturado a partir de um número pouco definível de animais que podem ou não ser da mesma espécie.

Isso na minha opinião reforça o quanto essa experiência de consumo é esquisita e dissociativa. Afinal, eram pedaços de criaturas que, sencientes, também tinham suas próprias necessidades e anseios. Mas, diferentes de nós, foram mortas e tiveram suas partes distribuídas por um número diverso de produtos.

Embutidos são misturas de fragmentos de corpos mortos, de carcaças, suprimidas em algo pequeno que representa a inclemente subjugação da vulnerabilidade não humana.

Esses produtos não existiriam sem que animais recebessem disparos no crânio visando inutilizar a capacidade cerebral como meio de insensibilização, eletronarcose (choque térmico) e degola, entre outras práticas e etapas que nunca vemos com bons olhos quando estendemos nossa empatia às vítimas. Sem dúvida, claras ações de violência, independente de como interpretamos a reação de um animal abatido para consumo.

Estamos sempre dispostos a matar para morrer

Admito que quando vejo linguiça toscana, logo penso na privação e morte do porco que a originou. A situação se repete em relação ao presunto obtido, por tradição, a partir da perna traseira de um suíno. Será que a perna dele não era importante para ele assim como a minha é para mim?

E a carne residual mecanicamente separada dos ossos dos frangos utilizada também na produção de salsicha? Não poupamos nada em relação a esses animais. E os nuggets ou empanados que reúnem fragmentos de tantas aves? E o peito de peru, que além da carne do animal, também traz na composição a sua própria pele?

Além da violência inerente à produção de “matéria-prima” que servirá à indústria da carne, e por extensão, à produção de embutidos, por que consumir algo que já foi comprovado ser prejudicial à nossa saúde e que não existiria sem a obliteração irrefletida de tantas vidas? Parece-me tão estranho e paradoxal que vejo a suposta “lógica” desse consumo da seguinte maneira: “Estamos sempre dispostos a matar para morrer…”

_____________________________________________

 

David Arioch é jornalista profissional, historiador e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário.

 

Go to Original – vegazeta.com.br


Tags: , , , ,

 

Share this article:


DISCLAIMER: The statements, views and opinions expressed in pieces republished here are solely those of the authors and do not necessarily represent those of TMS. In accordance with title 17 U.S.C. section 107, this material is distributed without profit to those who have expressed a prior interest in receiving the included information for research and educational purposes. TMS has no affiliation whatsoever with the originator of this article nor is TMS endorsed or sponsored by the originator. “GO TO ORIGINAL” links are provided as a convenience to our readers and allow for verification of authenticity. However, as originating pages are often updated by their originating host sites, the versions posted may not match the versions our readers view when clicking the “GO TO ORIGINAL” links. This site contains copyrighted material the use of which has not always been specifically authorized by the copyright owner. We are making such material available in our efforts to advance understanding of environmental, political, human rights, economic, democracy, scientific, and social justice issues, etc. We believe this constitutes a ‘fair use’ of any such copyrighted material as provided for in section 107 of the US Copyright Law. In accordance with Title 17 U.S.C. Section 107, the material on this site is distributed without profit to those who have expressed a prior interest in receiving the included information for research and educational purposes. For more information go to: http://www.law.cornell.edu/uscode/17/107.shtml. If you wish to use copyrighted material from this site for purposes of your own that go beyond ‘fair use’, you must obtain permission from the copyright owner.


Comments are closed.